O Essencial

28/03/2020


Um comentário de uma colega fez-me ir procurar esta publicação (na imagem).
Não há neste momento nem soluções perfeitas, nem perfeitamente pensadas, preparadas. Creio sinceramente que todos estamos a tentar. Mas é também a altura de pensar. De ter tempo para pensar.
Eu sei que há crianças e famílias mais vulneráveis do que outras. Mas também sei que estamos todos a aprender a viver com a nossa própria vulnerabilidade. E que não são estes os tempos para nos preocuparmos com o bom cumprimento de um currículo formal e universal. Não são estes os tempos para nos preocuparmos com o não uso de tablets ou de computadores por algumas crianças, e que precisamos sobretudo de ser sensatos no pensar aquilo que é preciso que a Polícia lhes leve a casa.


Muitas das nossas famílias não têm nem livros, nem brinquedos, nem pincéis nem papéis, nem quase nada de todas essas coisas que nos parecem simultaneamente normais e imprescindíveis. E se querem que vos diga, eu creio que todas as crianças resolvem até muito bem esse problema. Inventam jogos e brincadeiras, adaptam-se e florescem à sua maneira. São quase sempre mais resilientes do que nós. Mais resistentes e mais persistentes. Amadurecem. Não deve ser por mero acaso que resistem tão melhor do que nós a esta pandemia.


Mesmo assim, se pensarem em mobilizar as escolas e os polícias para apoiar algumas em casa, vejam se não é melhor perguntar e pensar bem, ver o que podem realmente precisar. E o que as pode realmente ajudar. É que eu prefiro que pintem ou desenhem, que comam e bebam, que brinquem e sorriam... que recebam um livro ou um brinquedo, um saco de balões, um nariz de palhaço ou um fantoche, do que vinte fichas para preencher. Não sei, mas querem pensar comigo... O que seria mais interessante e educativo levar..?


De uma coisa tenho a certeza. As turmas, os anos de escolaridade, se nunca foram homogéneos, como sempre quisemos crer, serão ainda mais diversos e muito mais díspares quando tudo isto passar. E é escusado pensar ou tentar o contrário. Vão todos evoluir e crescer, no corpo e na alma, mas cada um à sua maneira e de maneiras tão diversas, tão multiculturais, tão multinível, que é completamente impossível prever... Não é sequer um problema de quantidade ou de qualidade, de uns ficarem a ser muito e outros muito pouco (creio que quase todos vão saber tanto mais). Não é sequer um problema de ricos e de pobres, de privilegiados versus vulneráveis. É apenas o mais óbvio e natural possível.


Somos assim. Nunca paramos de aprender, mas aprendemos de mil e uma maneiras... Uns vão aprender isto, outros aquilo, uns assim, outros assado, como acontece sempre, nas aulas e na vida, dentro ou fora da escola. Só que agora, vai notar-se muito mais. Vai ser impossível ignorar, vai tornar-se impossível não ver.


Quando voltarmos à Escola, simplesmente haverá que (re)aprender a trabalhar com a diversidade. Olhar cada um, olhar a todos, mas sempre a partir do ponto em que cada um estiver, e a partir desse ponto, estimular e trabalhar, trabalhar e estimular, para que todos tenham as melhores condições e oportunidades possíveis, para que todos possam continuar a evoluir, a aprender, a ser... Vai ser este (como sempre foi) o papel da Escola. Por isso esqueçam a ideia de que vai ser preciso assegurar que para todos tudo seja igual.


É oficial, consultem o site da DGE.

https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Projeto_Autonomia_e_Flexibilidade/perfil_dos_alunos.pdf



Publicado a 21.03.2020 no Facebook (autoria: Dulce Gonçalves)

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